segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Nomenclatura e Classificação dos Seres


Todos conhecemos os animais e as plantas por algum nome, que muda conforme a localidade, região e/ou país onde se encontra a espécie. Se todos conhecessem uma mesma espécie (animal ou vegetal) com nomes diferentes, e iniciassem uma conversa sobre ele, logo pensariam que estavam falando de espécies muito parecidas, mas não da mesma espécie. De fato, esta confusão criada com os diferentes nomes vulgares (nomes que utilizamos para chamar comumente as espécies) sempre foi um problema na Biologia, qualquer que fosse o ramo de estudo e/ou pesquisa.

Em uma tentativa de universalizar os nomes de animais e plantas, já de há muito os cientistas vinham procurando criar uma nomenclatura internacional para a designação dos seres vivos. No primeiro livro de Zoologia publicado por um americano, Mark Catesby, por volta de 1740, houve uma tentativa de "padronizar" o nome de um pássaro, o tordo americano, de tal forma que ele pudesse ser conhecido em qualquer idioma, mas o nome dado ao pássaro era demasiado grande para descrever uma ave tão pequena. Já em 1735, o sueco Karl von Linné, botânico e médico, conhecido como Linneu, lançava seu livro "Systema Naturae", onde propunha regras para classificar e denominar animais e plantas. Mas só na 10a edição do seu livro, já em 1758, foi que ele propôs efetivamente uma forma de nomenclatura mais simples, em que cada organismo seria conhecido por dois nomes apenas, seguidos e inseparáveis. Assim surgiu a nomenclatura binominal moderna.

As regras atuais para a denominação científica dos seres vivos, incluindo os animais já extintos, foram firmadas com base na obra de Lineu, no I Congresso Internacional de Nomenclatura Científica, em 1898, e revistas em 1927, em Budapeste, Hungria.

As principais regras são:

¤ Na designação científica, os nomes devem ser latinos de origem ou, então, latinizados.

¤ Em obras impressas, todo nome científico deve ser escrito em itálico (tipo de letra fina e inclinada), diferente do corpo tipográfico usado no texto corrido. Em trabalhos manuscritos, esses nomes devem ser grifados.

¤ Cada organismo deve ser reconhecido por uma designação binominal, onde o primeiro termo identifica o seu gênero e o segundo, sua espécie. Mas considera-se erro grave o uso do nome da espécie isoladamente, sem ser antecedido pelo nome do gênero.

¤ O nome relativo ao gênero deve ser um substantivo simples ou composto, escrito com inicial maiúscula.

¤ O nome relativo à espécie deve ser um adjetivo escrito com inicial minúscula ( * salvo raríssimas excessões: Nos casos de denominação específica em homenagem a pessoa célebre do próprio país onde se vive, consente-se o uso da inicial maiúscula.).

¤ Em seguida ao nome do organismo é facultado colocar, por extenso ou abreviadamente, o nome do autor que primeiro o descreveu e denominou, sem qualquer pontuação intermediária, seguindo-se depois uma vírgula e a data em que foi publicado pela primeira vez ( * Não confundir o nome do autor (mencionado após a espécie) com subespécie, uma vez que esta última é grafada com inicial minúscula e é escrita com o tipo itálico, enquanto o nome do autor tem sempre inicial maiúscula e não é grafado em itálico.).

¤ Conquanto a designação seja uninominal para gêneros e binominal para espécies, ela é trinominal para subespécies.

¤ Em Zoologia, o nome da família é dado pela adição do sufixo -idae ao radical correspondente ao nome do gênero-tipo. Para subfamília, o sufixo usado é -inae.

¤ Algumas regras de nomenclatura Botânica são independentes das regras de nomenclatura zoológica. Os nomes de família, por exemplo, nunca têm para as plantas o sufixo -idae, mas quase sempre levam a terminação -aceae.

¤ Lei da Prioridade: Se para um mesmo organismo forem dados nomes diferentes, por autores diversos, prevalece a primeira denominação. A finalidade dessa regra é evitar que a mesma espécie seja designada por diferentes nomes científicos, o que acarretaria confusão idêntica à que existe com os nomes vulgares.

Observação: Em casos excepcionais, é permitida a substituição de um nome científico, mas para isso adota-se uma notação especial, já convencionada, que indica tratar-se de espécime reclassificado. Assim, quando um especialista muda a posição sistemática de um ser que anteriormente já recebera denominação científica, e o coloca em outro gênero, a notação taxionômica correta deve assumir uma das formas abaixo:

A) Menciona-se o nome antigo entre parênteses, depois do gênero e antes do nome específico.

B) Ou, então, menciona-se o nome do organismo já no novo gênero e, a seguir, entre parênteses, o nome do primeiro autor e a data em que denominou aquele ser; só então, já fora dos parênteses, coloca-se o nome do segundo autor e a data em que reclassificou o espécime.

Já a divisão dos seres vivos é feita de forma a agrupar seres semelhantes em grupos distintos de outros. O estudo descritivo de todas as espécies de seres vivos e sua classificação dentro de uma verdadeira hierarquia de grupamentos constitui a sistemática ou taxionomia. Até há algum tempo atrás, distinguiam-se a sistemática zoológica, referente aos animais, e a sistemática botânica, referente às plantas. Atualmente, a divisão dos seres assumiu um grau de complexidade maior, possuindo cinco reinos.

Para um entendimento da funcionalidade das divisões taxionômicas dos seres, é necessário o conhecimento de conceitos básicos, que estão inseridos em conjuntos, e cada conjunto está, por sua vez, inserido em um conjunto maior e mais abrangente. Estes conceitos são, em ordem crescente:

» Espécie: é um grupamento de indivíduos com profundas semelhanças morfológicas e fisiológicas entre si, mostrando grandes similaridades bioquímicas, e no cariótipo (quadro cromossomial de células haplóides), com capacidade de se cruzarem naturalmente, originando descendentes férteis.

» Gênero: é o conjunto de espécies que apresentam semelhanças, embora não sejam idênticas.

» Família: é o conjunto de gêneros afins, isto é, muito próximos ou parecidos, embora possuam diferenças mais significativas do que a divisão em gêneros.

» Ordem: é um grupamento de famílias que têm semelhanças.

» Classe: é a reunião de ordens que possuem fatores distintos de outras, mas comum às ordens que a ela pertencem.

» Filo (Ramo): é a reunião de classes com características em comum, mesmo que muito distintas entre si.

» Reino: é a maior das categorias taxionômicas, que reune filos com as características comuns a todos, mesmo que existam diferenças enormes entre eles. Possui apenas cinco divisões: Animalia (Metazoa), Vegetalia (Plantae), Fungi, Protistis e Monera.

A partir destes conjuntos, a ordem é:

Espécies <>

Onde lê-se que as espécies estão inseridas nos gêneros, que estão inseridos nas famílias, que estão inseridas nas ordens, que estão inseridas nas classes, que estão inseridas nos filos (ramos), que por sua vez estão inseridos nos reinos.

Uma observação deve ser feita: os VÍRUS são seres que são classificados à parte, sendo considerados como seres sem reino. Isto acontece devido às características únicas que eles apresentam, como a ausência de organização celular, ausência de metabolismo próprio para obter energia, reproduz-se somente em organismo hospedeiro, entre outras. Mas eles possuem a faculdade de sofrer mutação, a fim de adaptar-se ao meio onde se encontram.

Com estas noções, espero que seja possível um melhor entendimento da complexidade do mundo das ciências biológicas, em especial da Paleontologia.

Fonte: "BIOLOGIA - Volume 3 : Seres Vivos-Evolução-Ecologia", SOARES, José Luis, 2ª Ed., Editora Scipione, SP, 1993, pgs. 8-22.

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