quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Problemas Ambientais III - El Niño e La Niña

Efeito El Niño

Em março de 1997, Stephen Zebiak fitou a tela do seu computador, assombrado. O veterano pesquisador de Meteorologia viu indicações de um fenômeno mundial que, durante anos, tem sido responsabilizado por secas, inundações, fome, incêndios e milhares de mortes. Denominado El Niño, é a influência climática mais destruidora no planeta.

Zebiak e Mark Cane, cientistas e pesquisadores do Lamont-Doherty Earth Observatory da Universidade de Colúmbia, haviam criado modelo computadorizado de previsão de tempo que indicou corretamente as ocorrências do El Niño em 1982, 1986 e 1991, e havia previsto reaparecimento em 1998. Mas os dados na tela de Zebiak enviados por monitores de satélite e de superfície marinha espalhados pelo Pacífico eram inequívocos: o El Niño já se iniciava. Imensa lagoa de água morna - maior do que os Estados Unidos, com profundidade de cerca de 180 metros - arrastava-se para o leste, em direção à América do Sul.

Em junho, a direção dos ventos alísios equatorias inverteu-se de oeste para leste. Segundo os Centros Nacionais de Prognósticos para o Meio Ambiente, a última vez ocorreu no inverno de 1982-1983. Foi o El Niño mais devastador dos últimos tempos.

Em setembro de 1996, as águas ao largo da costa da região norte da Califórnia estavam oito graus mais quentes, e ao largo da costa de Washington pescadores atônitos capturavam um marlim, alvo de pesca esportiva que raramente se desvia tanto para o norte. Tempestades inundavam a região do Chile, e nevascas de força incomum nos Andes isolaram centenas de pessoas em meio ao frio cortante.

Zebiak e Cane acompanharam a evolução dos acontecimentos. Se o El Niño deste ano continuar a crescer, poderá ser o mais forte dos últimos 150 anos.

O que é o El Niño????

O fenômeno El Niño é uma mudança no sistema oceano-atemosfera do Pacífico-Leste provocada pelo aumento anormal da temperatura da superfície da água do mar nessa região, seguindo mais ou menos a linha do Equador(área central do oceano Pacífico).

O nome El Niño (significa "menino" em espanhol) foi dado séculos atrás por pescadores peruanos que observavam, em alguns anos, considerável diminuição da quantidade de peixes na costa peruana e morte de pássaros que se alimentavam dos mesmos. A diminuição da quantidade de peixes é devida ao aumento da temperatura da água, dificultando sua sobrevivência. Como tal fato sempre ocorria próximo ao Natal foi denominada "El Niño" em homenagem ao nascimento do menino Jesus.

O que ocorre normalmente sobre as águas da faixa tropical do Pacífico é o vento soprando de leste para oeste(em direção à Ásia) acumulando a água mais quentes(água de toda a superfíce da faixa tropical que foi aquecidas pelo Sol) no setor oeste do mesmo, deixando o nível do oceano na Indonésia meio metro acima do nível da costa oeste da América do Sul. Assim, na costa sul-americana a temperatura da água é cerca de 8°C mais fria e rica em nutrientes para o ecossistema marinho.

Em anos de El Niño, os ventos leste-oeste enfraquecem chegando

Em anos de El Niño, os ventos leste-oeste enfraquecem chegando, em algumas áreas na faixa tropical, a inverterem o sentido soprando de oeste para leste. Logo, a água mais quente do oeste é "empurrada" para o leste, deixando a água da costa oeste da América do Sul com temperaturas acima da média, e abaixo da média a água da região da Indonésia e norte/nordeste da Austrália.

A anomalia da temperatura dessa parte do oceano provoca mudanças climáticas regionais e globais.

A anomalia da temperatura dessa parte do oceano provoca mudanças climáticas regionais e globais. Na própria faixa tropical há um deslocamento do ar deixando as áreas menos chuvosas com índices de chuva mais elevado(Indonésia e Austrália) e as áreas mais chuvosas com índices de chuva menos elevados(oeste da América do Sul). Como na atmosfera não há barreiras, tais mudanças na faixa tropical passam a afetar todo o globo terrestre. A figura abaixo mostra os efeitos do El Niño para diversas partes do globo no período de dezembro/97 e fevereiro/98.

A anomalia da temperatura dessa parte do oceano provoca mudanças climáticas regionais e globais.

O que ele provoca??? (Impactos)

Os Impactos globais provocados pelo El Niño foram ilustrados na Figura 1(tópico: "O que é o El Niño) de maneira geral. Como podemos perceber nos últimos dias, o verão do Hemisfério Sul está c/ índices de chuva acima da média no nordeste africano, sudeste americano e região costeira do Peru, e abaixo no sudeste africano, norte da Austrália, Filipinas e Indonésia. Já o inverno do Hemisfério Norte está com o clima mais seco no Paquistão e nordeste da Índia(as monções tem sido iregulares em partes do território indiano), mais frio e úmido no sudeste dos Estados Unidos e mais quente no nordeste.

No Brasil, o El Niño está provocando:

Região Norte: diminução das chuvas no nordeste e leste da Amazônia.
Região Nordeste: itensificação na seca nordestina que irá agravar-se no período de fevereiro/98 a junho/98(período no qual seria a estação chuvosa do semi-árido nordestino).
Região Cento-Oeste: temperaturas mais altas e menos chuvas.
Região Sudeste: na maior parte da região há elevação da temperatura e secura do ar, e em algumas área aumento de chuvas.
Região Sul: aumento de chuvas principalmente na faixa do Rio Grande do Sul ao Paraná.

Algumas previsões dizem que os impactos do El Niño no Brasil serão consideráveis neste verão, ainda piores do que os registrados em 1982 e 1983. É muito provável que no sul do país haja inundações, e no nordeste, seca. O El Niño deverá formar um bloqueio das frentes frias vindas do sul, na altura de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Com isso, a formação de nuvens sobre o Estado do Rio de Janeiro será prejudicada, resultando na inibição das chuvas típicas das tardes de verão. O fenômeno atinge proporções gigantescas que poderá até causar uma temperatura de 42ºC no Rio de Janeiro em pleno inverno.

As chuvas de monção asiáticas talves falhem, resultando em escassez de alimentos no subcontinente indiano. Na Austrália, onde o El Niño tipicamente significa seca, já está em andamento um programa rigoroso de conservação de água.

Tudo isso, é claro, poderia afetar a economia global. Secas no Brasil e inundações na Colômbia podem resultar em alta nos preços do café e de outros produtos agrícolas. E a pesca comercial, desde o Equador até a Califórnia, já está sofrendo prejuízos.

El Niños Passados

A maioria ds pessoas pensam que o El Niño é um fenômeno recente devido à sua divulgação maciça pela mídia que está acontecendo no momento. Mas o que poucos sabem é que o El Niño é um fenômeno que persiste há milhares de anos e só agora os cientistas estão conseguindo montar esse grande quebra-cabeça.

Nós só podemos imaginar o que as civilizações anteriores pensavam sobre essas mudanças do clima em alguns anos e quais deuses culpavam pelas secas, falta de peixes, muita chuva.

Na figura abaixo, está ilustrado os anos de El Niño que tivemos do ano de 1550 ao ano de 1995.

Na figura , está ilustrado os anos de El Niño que tivemos do ano de 1550 ao ano de 1995.

La Niña

Quando há anos de El Niño, quase sempre há logo após anos de La Niña(significa "menina" em espanhol). O fenômeno La Niña caracteriza-se por um resfriamento da água na faixa equatorial do Oceano Pacífico, em particular no centro-oeste da bacia. Mas a magnitude de tal resfriamento é bem menor que a magnitude do aquecimento da água no El Niño, não afetando tanto no clima global.

Sabemos que, normalmente, a água do Oceano Pacífico é mais aquecida na região da Indonésia e setores norte/nordeste da Austrália(centro-oeste da bacia) e mais fria na região da América do Sul(centro-leste da bacia). Isso caracteriza o vento da região equatorial do Pacífico soprando de leste para oeste, "empilhando" a água mais aquecida no setor oeste. Quando ocorre o fenômeno La Niña, as temperaturas do oceano ficam acima da média no setor centro oeste da bacia e abaixo no setor centro-leste, fazendo com que os ventos que sopram de leste para oeste intensifiquem-se ou mantem-se na média. Assim, fortalece-se a formação de nuvens e consequente chuvas no setor centro oeste, principalmente na região da Indonésia e setores norte/nordeste da Austrália, provocando um ar seco e frio na parte centro leste da bacia principalmente na costa oeste da América do Sul.

Não existem, cientificamente, resultados de estudo sobre a influência do fenômeno La Niña com anomalias climáticas sobre o Brasil. Mas o que se tem observado é que em anos de La Niña as chuvas tendem a ser menos abundantes no Sul e, em geral, mais abundantes no Nordeste(vale comentar que nem sempre em anos de La Niña as chuvas foram acima da média, principalmente no setor norte do Nordeste, que tem seu período chuvoso de fevereiro a maio).

Sensacionalismo...

O El Niño é um fenômeno de estudo recente por cientistas, não podendo, assim, ser afirmado que todas as mudanças climáticas são provocadas por ele.

Mas, a mídia muitas vezes taxa o El Niño como um vilão e até mesmo um demônio. Por exemplo:

Na Indonésia, houve incêndios florestais fora de controle nos meses de setembro e outubro de 97 que encobriu de fumaça parte do sudeste asiático. Quem colocou fogo nas florestas foram fazendeiros, que para preparar o solo para o plantio iniciaram queimadas, mas culparam o El Niño. O El Niño apenas agravou a situação por deixar a região mais seca do que o normal, mas não colocou fogo nas florestas!!!!

Você se lembra da queda de um avião Airbus A300-B4 que matou 234 pessoas na própria Indonésia??? A culpa foi do El Niño segundo a mídia. Há rumores de que a queda tenha sido causada pela fumaça dos mesmos incêndios "que o El Niño provocou".

O El Niño também trouxe impactos positivos para o planeta. Há estudos que constataram que de forma indireta sempre que há um aquecimento no clima do planeta inicialmente há um aumento na quantidade de dióxido de carbono, mas nos dois anos que se seguem ocorre um processo de redução de dióxido de carbono na atmosfera, atenuando o Efeito Estufa.

Além disso observou-se que durante o El Niño o número de furacões tropicais no Atlântico se reduz durante o ano, isto acontece pois os ventos de altitudes elevadas criados pelo fenômeno cortam os cimos dos furacões no Atlântico, abortando-os antes que alcancem força total.

No Instituto Weizmann de Israel, a equipe de cientistas que estudou fotos das nuvens por satélite concluiu que o El Niño pode trazer preciosa umidade para o seco Oriente Médio.

Não devemos esquecer que o fenômeno El Niño é de recente estudo e não de recente acontecimento. Há dados de anos de El Niño ocorridos por volta de 1500!!!

Fonte: www.geocities.com


Efeito El Niño

Uma componente do sistema climático da terra é representada pela interação entre a superfície dos oceanos a baixa atmosfera adjacente a ele. Os processos de troca de energia e umidade entre eles determinam o comportamento do clima, e alterações destes processos podem afetar o clima regional e global.

El Niño representa o aquecimento anormal das águas superficiais e sub-superficiais do Oceano Pacífico Equatorial. A palavra El Niño é derivada do espanhol, e refere-se a presença de águas quentes que todos os anos aparecem na costa norte de Peru na época de Natal. Os pescadores do Peru e Equador chamaram a esta presença de águas mais quentes de Corriente de El Niño em referência ao Niño Jesus ou Menino Jesus.

Na atualidade, as anomalias do sistema climático que são mundialmente conhecidas como El Niño e La Niña representam uma alteração do sistema oceano-atmosfera no Oceano Pacífico tropical, e que tem conseqüências no tempo e no clima em todo o planeta. Nesta definição, considera-se não somente a presença das águas quentes da Corriente El Niño mas também as mudanças na atmosfera próxima à superfície do oceano, com o enfraquecimento dos ventos alísios (que sopram de leste para oeste) na região equatorial.

Com esse aquecimento do oceano e com o enfraquecimento dos ventos, começam a ser observadas mudanças da circulação da atmosfera nos níveis baixos e altos, determinando mudanças nos padrões de transporte de umidade, e portanto variações na distribuição das chuvas em regiões tropicais e de latitudes médias e altas. Em algumas regiões do globo também são observados aumento ou queda de temperatura. A figura abaixo mostra a situação observada em dezembro de 1997, no pico do fenômeno El Niño 1997/98.

Anomalia de temperatura da superfície do mar em dezembro de 1998
Anomalia de temperatura da superfície do mar em dezembro de 1998 mostrada na figura acima. Os tons avermelhados indicam regiões com valores acima da média e os tons azulados as regiões com valores abaixo da média climatológica. Pode-se notar a região no Pacífico Central e Oriental com valores positivos, indicando a presença do El Niño. Dados cedidos gentilmente pelo Dr. John Janowiak - CPC/NCEP/NWS/NOAA-EUA.

Que é o El Niño-Oscilação Sul (ENOS) ?

Talvez a melhor maneira de se referir ao fenômeno El Ninõ seja pelo uso da terminologia mais técnica, que inclui as caraterísticas oceanicas-atmosféricas, associadas ao aquecimento anormal do oceano Pacifico tropical. O ENOS, ou El Niño Oscilação Sul representa de forma mais genérica um fenômeno de interação atmosfera-oceano, associado a alterações dos padrões normais da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) e dos ventos alísios na região do Pacífico Equatorial, entre a Costa Peruana e no Pacifico oeste próximo à Austrália.

Além de índices baseados nos valores da temperatura da superfície do mar no Oceano Pacifico equatorial, o fenômeno ENOS pode ser também quantificado pelo Índice de Oscilação Sul (IOS). Este índice representa a diferença entre a pressão ao nível do mar entre o Pacifico Central (Taiti) e o Pacifico do Oeste (Darwin/Austrália). Esse índice está relacionado com as mudanças na circulação atmosférica nos níveis baixos da atmosfera, conseqüência do aquecimento/resfriamento das águas superficiais na região. Valores negativos e positivos da IOS são indicadores da ocorrência do El Niño e La Niña respectivamente.

Algumas observações

Evento de El Niño e La Niña tem uma tendência a se alternar cada 3-7 anos. Porém, de um evento ao seguinte o intervalo pode mudar de 1 a 10 anos;

As intensidades dos eventos variam bastante de caso a caso. O El Niño mais intenso desde a existência de "observações" de TSM ocorreu em 1982-83 e 1997-98.

Algumas vezes, os eventos El Niño e La Niña tendem a ser intercalado por condições normais. Como funciona a atmosfera durante uma situação normal e durante uma situação de El Niño?:

El Niño resulta de uma interação entre a superfície do mar e a baixa atmosfera sobre o Oceano Pacifico tropical. O inicio e fim do El Niño e determinado pela dinâmica do sistema oceano-atmosfera, e uma explicação física do processo é complicada Para que o leitor possa entender um pouco sobre isso, propõe-se um "modelinho simples", extraído do livro El Niño e Você, de Gilvan Sampaio de Oliveira.

1) Imagine uma piscina (obviamente com água dentro)
1) Imagine uma piscina (obviamente com água dentro), num dia ensolarado;
2) Coloque numa das bordas da piscina um grande ventilador, de modo que este seja da largura da piscina;
3) Ligue o ventilador;
4) O vento irá gerar turbulência na água da piscina;
5) Com o passar do tempo, você observará um represamento da água no lado da piscina oposto ao ventilador e até um desnível, ou seja, o nível da água próximo ao ventilador será menor que do lado oposto a ele, e isto ocorre pois o vento está "empurrando" as águas quentes superficiais para o outro lado, expondo águas mais frias das partes mais profundas da piscina.


É exatamente isso que ocorre no Oceano Pacífico sem a presença do El Niño, ou seja, é esse o padrão de circulação que é observado. O ventilador faz o papel dos ventos alísios e a piscina, é claro, do Oceano Pacífico Equatorial. Águas mais quentes são observadas no Oceano Pacífico Equatorial Oeste. Junto à costa oeste da América do Sul as águas do Pacífico são um pouco mais frias.

Com isso, no Pacífico Oeste, devido às águas do Oceano serem mais quentes, há mais evaporação. Havendo evaporação, há a formação de nuvens numa grande área. Para que haja a formação de nuvens o ar teve que subir. O contrário, em regiões com o ar vindo dos altos níveis da troposfera (região da atmosfera entre a superfície e cerca de 15 km de altura) para os baixos níveis raramente há a formação de nuvens de chuva. Mas até onde e para onde vai este ar ?

Um modo simplista de entender isso é imaginar que a atmosfera é compensatória, ou seja, se o ar sobe numa determinada região, deverá descer em outra. Se em baixos níveis da atmosfera (próximo à superfície) os ventos são de oeste para leste, em altos níveis ocorre o contrário, ou seja, os ventos são de leste para oeste. Com isso, o ar que sobe no Pacífico Equatorial Central e Oeste e desce no Pacífico Leste (junto à costa oeste da América do Sul), juntamente com os ventos alísios em baixos níveis da atmosfera (de leste para oeste) e os ventos de oeste para leste em altos níveis da atmosfera, forma o que os Meteorologistas chamam de célula de circulação de Walker, nome dado ao Sir Gilbert Walker.

A abaixo mostra a célula de circulação de Walker, bem como o padrão de circulação em todo o Pacífico Equatorial em anos normais, ou seja, sem a presença do fenômeno El Niño. Outro ponto importante é que os ventos alísios, junto à costa da América do Sul, favorecem um mecanismo chamado pelos oceanógrafos de ressurgência, que seria o afloramento de águas mais profundas do oceano.

Estas águas mais frias têm mais oxigênio dissolvido e vêm carregadas de nutrientes e micro-organismos vindos de maiores profundidades do mar, que vão servir de alimento para os peixes daquela região. Não é por acaso que a costa oeste da América do Sul é uma das regiões mais piscosas do mundo. O que surge também é uma cadeia alimentar, pois os pássaros que vivem naquela região se alimentam dos peixes, que por sua vez se alimentam dos microorganismos e nutrientes daquela região.

Circulação observada no Oceano Pacífico Equatorial
Circulação observada no Oceano Pacífico Equatorial em anos sem a presença do El Niño ou La Niña, ou seja, anos normais. A célula de circulação com movimentos ascendentes no Pacífico Central/Ocidental e movimentos descendentes no oeste da América do Sul e com ventos de leste para oeste próximos à superfície (ventos alísios, setas brancas) e de oeste para leste em altos níveis da troposfera é a chamada célula de Walker. No Oceano Pacífico, pode-se ver a região com águas mais quentes representadas pelas cores avermelhadas e mais frias pelas cores azuladas. Pode-se ver também a inclinação da termoclima, mais rasa junto à costa oeste da América do Sul e mais profunda no Pacífico Ocidental. Figura gentilmente cedida pelo Dr. Michael McPhaden do Pacific Marine Environmental Laboratory (PMEL)/NOAA, Seattle, Washington, EUA.

Deve ser notado, na figura acima, que existe uma região chamada de termoclina onde há uma rápida mudança na temperatura do oceano. Esta região separa as águas mais quentes (acima desta região) das águas mais frias (abaixo desta região). Os ventos alísios "empurrando" as águas mais quentes para oeste, faz com que a termoclina fique mais rasa do lado leste, expondo as águas mais frias.

Vamos agora voltar ao nosso "modelinho". Vamos imaginar o seguinte:
Desligue o ventilador, ou coloque-o em potência mínima. O que irá acontecer?

Agora, o arrasto que o vento estava provocando na água da piscina irá desaparecer ou diminuir. As águas do lado oposto ao ventilador irão então refluir para que o mesmo nível seja observado em toda a piscina. O Sol continuará aquecendo a piscina e as águas deverão, teoricamente, estar aquecidas igualmente em todos os pontos da piscina. Certo?

Então vamos correlacionar novamente com o Oceano Pacífico. O ventilador desligado ou em potência mínima, significa neste caso o enfraquecimento dos ventos alísios. Veja que os ventos não param de soprar. Em algumas regiões do Pacífico ocorre até a inversão dos ventos, ficando estes de oeste para leste. Agora, todo o Oceano Pacífico Equatorial começa a aquecer. E como dito anteriormente: aquecimento gera evaporação com movimento ascendente que por sua vez gera a formação de nuvens. A diferença agora é que ao invés de observarmos a formação de nuvens com intensas chuvas no Pacífico Equatorial Ocidental, vamos observar a formação de nuvens principalmente no Pacífico Equatorial Central e Oriental

Padrão de circulação observada em anos de El Niño na região equatorial do Oceano Pacífico.
Padrão de circulação observada em anos de El Niño na região equatorial do Oceano Pacífico. Nota-se que os ventos em superfície, em alguns casos, chegam até a mudar de sentido, ou seja, ficam de oeste para leste. Há um deslocamento da região com maior formação de nuvens e a célula de Walker fica bipartida. No Oceano Pacífico Equatorial podem ser observadas águas quentes em praticamente toda a sua extensão. A termoclina fica mais aprofundada junto à costa oeste da América do Sul principalmente devido ao enfraquecimento dos ventos alísios. Figura gentilmente cedida pelo Dr. Michael McPhaden do Pacific Marine Environmental Laboratory (PMEL)/NOAA, Seattle, Washington, EUA.

Fonte: www.cptec.inpe.br


Efeito La Niña

Você agora deve estar pensando. Ora, La Niña, como é o oposto, ou seja, é o resfriamento das águas do Oceano Pacífico Equatorial, então os efeitos são exatamente opostos !

NÃO É BEM ASSIM !!!!!

O termo La Niña ("a menina", em espanhol) surgiu pois o fenômeno se caracteriza por ser oposto ao El Niño. Pode ser chamado também de episódio frio, ou ainda El Viejo ("o velho", em espanhol). Algumas pessoas chamam o La Niña de anti-El Niño, porém como El Niño se refere ao menino Jesus, anti-El Niño seria então o Diabo e portanto, esse termo é pouco utilizado. O termo mais utilizado hoje é: La Niña

Anomalia de temperatura da superfície do mar
Anomalia de temperatura da superfície do mar em dezembro de 1988. Plotados somente as anomalias negativas menores que -1ºC. Dados cedidos gentilmente pelo Dr. John Janowiak - CPC/NCEP/NWS/NOAA-EUA.

Para entender sobre La Niña, vamos retornar ao nosso "modelinho" descrito no item sobre El Niño. Imagine a situação normal que ocorre no Pacífico Equatorial, que seria o exemplo da piscina com o ventilador ligado, o que faria com que as águas da piscina fossem empurradas para o lado oposto ao ventilador, onde há então acúmulo de águas.

Voltando para o Oceano Pacífico, sabemos que o ventilador faz o papel dos ventos alísios e que o acúmulo de águas se dá no Pacífico Equatorial Ocidental, onde as águas estão mais quentes. Há também aquele mecanismo que citei anteriormente, o qual é chamado de ressurgência, que faz com que as águas das camadas inferiores do Oceano, junto à costa oeste da América do Sul aflorem, trazendo nutrientes e que por isso, é uma das regiões mais piscosas do mundo. Até aqui tudo bem, esse é o mecanismo de circulação que observamos no Pacífico Equatorial em anos normais, ou seja, sem a presença do El Niño ou La Niña.

Pois bem. Agora, ao invés de desligar o ventilador, vamos ligá-lo com potência maior, ou seja, fazer com que ele produza ventos mais intensos. O que vai acontecer?

Vamos tentar imaginar ?

Com os ventos mais intensos, maior quantidade de água vai se acumular no lado oposto ao ventilador na piscina. Com isso, o desnível entre um lado e outro da piscina também vai aumentar. Vamos retornar ao Oceano Pacífico.

Com os ventos alísios (que seriam os ventos do ventilador) mais intensos, mais águas irão ficar "represadas" no Pacífico Equatorial Oeste e o desnível entre o Pacífico Ocidental e Oriental irá aumentar. Com os ventos mais intensos a ressurgência também irá aumentar no Pacífico Equatorial Oriental, e portanto virão mais nutrientes das profundezas para a superfície do Oceano, ou seja, aumenta a chamada ressurgência no lado Leste do Pacífico Equatorial.Por outro lado, devido a maior intensidade dos ventos alísios as águas mais quentes irão ficar represadas mais a oeste do que o normal e portanto novamente teríamos aquela velha história: águas mais quentes geram evaporação e consequentemente movimentos ascendentes, que por sua vez geram nuvens de chuva e que geram a célula de Walker, que em anos de La Niña fica mais alongada que o normal. A região com grande quantidade de chuvas é do nordeste do Oceano Índico à oeste do Oceano Pacífico passando pela Indonésia, e a região com movimentos descendentes da célula de Walker é no Pacífico Equatorial Central e Oriental.

É importante ressaltar que tais movimentos descendentes da célula de Walker no Pacífico Equatorial Oriental ficam mais intensos que o normal o que inibe, e muito, a formação de nuvens de chuva.

Em geral, episódios La Niñas também têm freqüência de 2 a 7 anos, todavia tem ocorrido em menor quantidade que o El Niño durante as últimas décadas. Além do mais, os episódios La Niña têm períodos de aproximadamente 9 a 12 meses, e somente alguns episódios persistem por mais que 2 anos.

Outro ponto interessante é que os valores das anomalias de temperatura da superfície do mar (TSM) em anos de La Niña têm desvios menores que em anos de El Niño, ou seja, enquanto observam-se anomalias de até 4, 5ºC acima da média em alguns anos de El Niño, em anos de La Niña as maiores anomalias observadas não chegam a 4ºC abaixo da média.

Episódios recentes do La Niña ocorreram nos anos de 1988/89 (que foi um dos mais intensos), em 1995/96 e em 1998/99. "

Fonte: www.cptec.inpe.br

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