quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Reflexão científica

O Bem e o Mal, Existem Afinal? (Uma Abordagem Científica)

(Publicado no Artiletra nº 66, de Fevereiro de 2005)

De todos os temas de reflexão, poucos têm despertado tanto interesse ao longo da História (tempo) e das sociedades (espaço) como o paradigma do Bem e do Mal, principalmente o porquê da existencia do mal.

Várias abordagens têm sido aplicadas a esses conceitos, de religiosos a filosóficos, passando por esotéricos e agnósticos.

Mas penso que não foi feita uma análise no foro puramente científico (ou se foi feita não é popular), pelo que gostaria de neste artigo desenvolver uma hipótese com base na ciência.


Pode parecer um bocado esquisito querer tratar de um tema que sempre pertenceu ao domínio do emocional com bases racionais e experimentais, mas vejamos aonde podemos chegar.

Antes de começar relembremos as definições de Santo Agostinho de Mal: o mal natural, que são os eventos naturais (aleatórios); e o mal moral, que é o mais colhecido por maldade, pois é praticado conscientemente... é esse que vamos aqui analisar.

Façamos portanto uma dedução passo-a-passo:

I - Factos:
1. O comportamento humano em tempos era igual ao dos outros animais, ou seja, baseava-se apenas nos instintos. com o tempo, a racionalidade veio "entrar no clube", mas os instintos ainda desempenham um papel importantíssimo no comportamento, pois as emoções não são mais que reacções instintivas (inconscientes) a estímulos de diversa ordem. É claro que essas reacções (emoções) existem no estado "puro"(instintivo), mas com o tempo acabam por ser moldadas pela cultura a que o indivíduo pertence e pela educação que recebeu. Por exemplo, uma criança que cresce numa sociedade ocidental típica tem tendencia a ter nojo de insectos, o que nao acontece com outras sociedades, nas quais desde cedo elas aprendem a conviver com esses animais. No entanto, é sempre incómoda a presença de insectos para qualquer ser humano, pois por instinto sabem que eles podem ser perigosos. O facto dessas reacções serem "moldáveis" não significa que a emoção tem outra origem que não o instinto, mas sim é um tributo à excepcional capacidade do ser humano (da natureza, de facto) de se adaptar a diversos ambientes.
A propósito: penso que se pode, segundo esta lógica, fazer uma análise do grau de evolução de uma espécie pela relação entre o instinto e a razão no seu comportamento.

2. Há instintos básicos (de sobrevivencia) e "secundários". Os instintos básicos existem em todas as espécies, enquanto que os secundários agrupam-se em "pacotes" que cada espécie adopta dependendo do tipo de comportamento dos seus elementos. Estes instintos "secundários" podem ser individualistas, socialistas ou comunistas. Estas denominações engraçadas definem o modo como eles funcionam para manter a especie:
Instintos individualistas são os usados pela grande maioria das espécies. funcionam do seguinte modo: cada elemento da espécie cuida de si; assim, a espécie obtém um bom índice de sobrevivência (se os recursos de defesa forem adequados, é claro). A sua definição pode resumir-se ao que conhecemos como egoísmo, ou seja, competição com todos (mesmo os da própria espécie) por alimento, abrigo, água, fêmeas, etc.
Instintos individualistas surgem em espécies que vivem em sociedade, tal como os humanos, os macacos e os golfinhos. São instintos que levam cada elemento a cuidar da sociedade a que pertencem. Uma definição apropriada seria o que consideramos altruismo, ou seja, acções em prol dos outros (da sociedade).
Instintos Comunistas são os que regem as espécies fortemente comunitárias, como as formigas e abelhas. Criam digamos que uma automação quase total nas espécies, quase anulando os instintos primários. Se pudessem ser aplicados a humanos (não são porque são incompatíveis com a consciencia de si próprio), resultariam num mundo parecido com o descrito no Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley... todos sem individualidade, fazendo o seu papel, como autómatos.

3. Nos tempos que chamamos "primitivos", A nossa espécie possuia instintos individuais; só que depois desenvolvemos a linguagem, o que aumentou exponencialmente nossa inteligencia, tornando-nos seres racionais, e, o que é mais importante, sociais.
Mas nao deixámos de ser animais individualistas para passar a ser "socialistas" de um momento para o outro. houve um periodo de transiçao, no qual se criaram lentamente instintos sociais. nesse período esses dois "pacotes" de instintos conviveram entre si, até que com o tempo os instintos individualistas acabaram por se anular, pois não eram mais usados

II - Teoria (Origem do Mal e Bem)

Até aqui tudo bem. mas onde entram o bem e o mal nessa história?
A minha teoria é que nós AINDA estamos nesse periodo de transiçao, ou seja, ainda temos os dois tipos de instintos convivendo no nosso DNA, e, consequentemente, no nosso comportamento.

A questão é: que percentagem de cada um está no nosso ADN? A relação entre os dois tipos de instintos pode dar uma ideia sobre a nossa posição temporal nesse período de transição. É como se ao longo do tempo a percentagem da influencia dos instintos socialistas vá aumentando, ao mesmo tempo que a percentagem dos individualistas diminui, ate que no fim do periodo de transiçao tenhamos uma relação 100%-0%.

Esses instintos individualistas, enquanto existirem, são prejudiciais numa especie social, pois entram em conflito com os instintos sociais (ate pq egoismo é antagónico de altruismo...). Podemos usar a razao para contrariar esses instintos, mas temos a consciencia que sozinhos nao podemos fazer isso, a maior parte das pessoas nao tem força de vontade suficiente. tem que haver uma força impulsionadora.
Essa força é a chamada Cultura.

MAS, como a cultura é um produto do homem, tambem tem essas duas facetas: a altruista (que chamamos Moral, e que representa o bem) e a egoista (que chamamos o mal), que está oculta, implicita nas nossas relaçoes, que nao pomos no papel mas que os pais transmitem aos filhos e as pessoas ensinam constantemente umas às outras (é por isso que se diz que as crianças quando crescem perdem a inocencia). Quando somos cercados por pessoas que nos magoam nas suas tentativas de oter beneficios para si, olhando so para o seu umbigo, acabamos por criar uma crosta de insensibilidade (anulamos os nossos instintos sociais) e passamos a fazer o mesmo, tanto para nos defender como porque por natureza tendemos a imitar os outros da nossa espécie (um dos instintos básicos). O pior é que tudo isso se passa anível inconsciente, quando conscientemente somos aconselhados pela moral a nao ter esses comportamentos; acabamos por criar conflitos que geralmente são chamados de consciencia culpada; a nossa conduta depende intrinsecamente das influencias culturais positivas (explicitas) e negativas (implicitas) que recebemos ao longo da nossa vida.
Ou seja: como o homem por outro lado é também um produto da cultura, ele recebe essas mas influencias culturais e se essa faceta egoista (oculta) for mais forte que a altruista na sua educaçao (ou se sua mente for mais fraca - se ele tiver um DNA com instintos predominantemente egoistas), ele acaba por se tornar no que chamamos "pessoa ma".

No entanto, temos que ter em conta que mesmo as pessoas "neutras" ou as "boas" praticam actos "maus" (egoistas), pois todos sofremos essa influencia negativa da cultura, por mais fraca que seja.

O GRANDE PROBLEMA é que a nossa especie atingiu esse equilíbrio (homem/cultura; individuo/sociedade) NO MEIO do periodo de transicao de especie individualista para especie socialista; ou seja: a tecnologia faz com que nossa evoluçao nao seja mais determinada por causas naturais (a chamada Seleçao Natural de Darwin), mas sim nos somos os unicos com poder pra direcionar nossa evoluçao;
Alem disso, a cultura bipolar (egoista/altruista) encontrou um ponto mais ou menos estavel (em sintonia com a mente humana, isto é, com a mesma percentagem de egoismo/altruísmo), pelo que nao mudara nos proximos tempos por si so.

III - Soluções

O unico modo de se começar a reverter esse processo é seguir o mesmo que a natureza: causar de novo um desequilíbrio, e deixar que a especie por si so encontre de novo o equilibrio natural, ja no fim do periodo de transiçao.

o que quero dizer com isto: a natureza nos deu capacidades para controlarmos a nossa propria evoluçao. mas as suas leis continuam regendo, ou seja, é como se tivessemos vindo a cavalgar um cavalo, e a certa altura nos tivessem sido dadas redeas. mas isso so nos dá o poder de direccionar o cavalo, nao de, por exemplo, o fazer voar.
Ou seja: o estudo da evoluçao nos revelou que a natureza evolui por ciclos de desequilibrio/equilibrio, pelo que temos que seguir esse padrao: causamos o desequilibrio e a natureza trata do resto.

Tudo isto traduzido em miudos significa que devemos alterar a cultura; lançar novas leis sociais, morais, comportamentais, que aplicadas irao estimular apenas nossos instintos altruistas; a natureza, com o tempo, tratará de apaga-los, tal como faz com tudo o que e inutil, restaurando assim o equilíbrio homem/cultura, ambos com o mesmo "conteúdo" comportamental.

Outra opçao seria uma terapia genetica globalizada; uma alteraçao em larga escala do DNA humano, apagando esses vestigios de primitividade; Isso seria mais rapido, mas por um lado seria preciso acabar com esse tabu que vem sendo criado sobre a engenharia genetica, e por outro lado a sequente mudança da cultura levaria o seu tempo... se calhar nem seria assim tao mais rapido, mas quem podera dizer?

RESUMINDO E CONFUNDINDO, temos 3 alternativas:

1. Ou alteramos a cultura, e a natureza mudará o nosso ADN para se adaptar a ela, restaurando o equilibrio (homem > produto da cultura)

2. Ou alteramos o DNA, e naturalmente a cultura alterar-se-à para se adaptar a ele, restaurando o equilibrio (cultura > produto do homem)

3. Ou entao fazemos as duas coisas, restaurando por nós mesmos o equilibrio (homem <=> cultura)

De qualquer modo, o que quer que escolhamos, ficará nas nossas mãos a chave para o próximo passo. Tal como Na Matrix o Neo pode escolher a pílula azul, que o mantem no mundo de ilusão, e ele esquece tudo o que descobrira; ou pode tomar a pílula vermelha que lhe revelará toda a verdade (uma analogia com a maçã de eva e adão?).
A nossa espécie está num período crítico: a tecnologia aumenta exponencialmente, crescendo cada vez mais o poder destrutivo de um único indivíduo. Em breve esse poder atingirá o limite, ou seja, um elemento da espécie terá potencialmente poder para destruir toda a espécie... temos uma pílula em cada mão, temos que escolher antes que esse momento chegue, pois podemos não ficar aqui para contar a história, porque admitamos... há entre nós pessoas suficientemente egoístas ("más") para isso...e lembrando que tomar a pílula vermelha, escolher dar o próximo passo da nossa evolução, poderá muto bem ser o fim do Mal como o conhecemos!

Fonte: http://artigoswaldir.blog.com/377703/

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