quinta-feira, 13 de março de 2008

Serenidade [Crônica]

Achei essa crônica muito massa na net ....

Serenidade

Kátia brigava o tempo todo com Marquinhos. Não importava o quão gentil, meigo e adestrado ele fosse, ela sempre arrumava um motivo.

- Chocolate branco? Quatro anos de namoro e você me compra um ovo de chocolate branco? Será que quatro anos não foram suficientes pra você descobrir o quanto eu odeio chocolate branco? E jogou o presente na cara do namorado.

Marquinhos nunca respondia, nunca levantava a voz. Isso deixava Kátia ainda mais ensandecida.

- Calma amor, não tem problema. Eu compro outro.

- Você é um idiota mesmo. Não sei por que perco meu tempo com você.

- Porque eu te amo querida! Por isso! E dava um beijinho na testa da namorada.

Nada minava sua paciência. Nada abalava seu amor. Kátia, a cada dia, buscava novas maneiras de testar seu já então noivo.

- Ai! Que que é isso amor?

- Quero espaço. Vai dormir no sofá.

- Tá bom meu anjinho. Não precisa me derrubar da cama.

Seis anos e nada. Kátia não conseguia arrancar uma palavra de ódio de Marquinhos. Chegou a espalhar um boato de que tinha um amante, só para irritá-lo, mas nem isso surtia efeito. Pensava em desistir do casamento. Não conseguiria viver com um homem tão estável, tão ponderado. Já não sentia mais paixão, carinho, nada. Era chegado o dia do casamento. Ela entrava no altar a contragosto.

- Kátia Ferreira dos Santos, você aceita esse homem como seu legítimo esposo?

- Fazer o quê? Sim...

- Marcos Oliveira, você aceita essa mulher como sua legítima esposa?

Marquinhos, antes de pensar em responder à pergunta do padre, foi tomado por um instinto animal, muito mais forte do que ele. Respirou fundo e, sem sequer desviar os olhos do padre, desferiu um cotovelaço com a força de um coice na boca da sua futura esposa. Foi um alvoroço. Quase uma briga de bar. O pai de Kátia a arrastava pra fora do altar quando ela recobrou consciência. Seus gritos de "Eu te amo", um pouco desarticulados pelo sangue na boca e os dentes frouxos, se sobrepunham à toda a algazarra. Marcos, alheio à toda confusão, suspirou longa e calmamente e respondeu ao padre.

- Agora sim!

Aff ... essa foi bem no íntimo... risos.
Site: http://poesiaepalavrao.blogspot.com

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